Valores de FGTS durante casamento devem ser partilhados em caso de divórcio
Durante
casamento com comunhão parcial de bens, os valores recebidos pelo cônjuge
trabalhador e destinados ao Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
integram o patrimônio comum do casal e, dessa forma, devem ser partilhados em
caso de divórcio. O entendimento foi estabelecido pelos ministros da Segunda
Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em julgamento de ação que discutia
partilha de imóvel por ocasião do término do matrimônio.
De acordo com o processo submetido à
análise do STJ, o patrimônio havia sido adquirido pelos ex-cônjuges após a
doação de valores do pai da ex-esposa e com a utilização do saldo do FGTS de
ambos os conviventes. Uma das partes pedia a divisão igualitária dos recursos
do fundo utilizados para a compra, apesar de o saldo de participação para
aquisição ter sido diferente.
No julgamento de segunda instância, o
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) decidiu afastar da partilha a
doação realizada pelo genitor da ex-mulher, bem como os valores de FGTS
utilizados para pagamento do imóvel.
Natureza
personalíssima
Ao apresentar o seu voto à Segunda
Seção, no dia 24 de fevereiro, a ministra relatora do recurso no STJ, Isabel
Gallotti, entendeu que o saldo da conta vinculada de FGTS, quando não sacado,
tem “natureza personalíssima”, em nome do trabalhador. Nesse caso, não seria
cabível a divisão dos valores indisponíveis na conta ativa na hipótese de
divórcio.
A ministra considerou, entretanto, que a
parcela sacada por quaisquer dos cônjuges durante o casamento, investida em
aplicação financeira ou na compra de bens, integra o patrimônio comum do casal,
podendo ser dividida em caso de rompimento do matrimônio.
Na continuação do julgamento do recurso,
no último dia 9, os ministros da Segunda Seção acompanharam o voto da ministra
Gallotti em relação à exclusão da partilha da doação paterna e da divisão
igualitária dos valores do FGTS utilizados para compra do imóvel, pois os
recursos eram anteriores ao casamento.
Todavia, ao negar o recurso especial e
manter a decisão do TJRS, os ministros optaram por aderir à fundamentação
apresentada pelo ministro Luis Felipe Salomão em seu voto-vista.
Patrimônio
comum
De acordo com o ministro Salomão,
pertencem ao patrimônio individual do trabalhador os valores recebidos a título
de fundo de garantia em momento anterior ou posterior ao casamento. Contudo, durante a vigência da relação conjugal, o ministro entendeu que os
proventos recebidos pelos cônjuges, independentemente da ocorrência de saque,
“compõem o patrimônio comum do casal, a ser partilhado na separação, tendo em
vista a formação de sociedade de fato, configurada pelo esforço comum do casal,
independentemente de ser financeira a contribuição de um dos consortes e do
outro não”.
Hipótese
autorizadora
O ministro Salomão lembrou que o titular
de FGTS não tem a faculdade de utilizar livremente os valores depositados na
conta ativa, estando o saque submetido às possibilidades previstas na Lei
8.036/1990 ou estabelecidas em situações excepcionais pelo Judiciário.
Tendo em vista o caráter exemplificativo
dos casos de saque apontados pela Lei 8.306 e as possibilidades de extensão
previstas na jurisprudência, o ministro Salomão se posicionou no sentido de
inserir o divórcio como uma hipótese autorizadora do levantamento dos depósitos
comunicáveis realizados no fundo.
Segundo o ministro Salomão, os valores a
serem repartidos devem ser “destacados para conta específica, operação que será
realizada pela Caixa Econômica Federal, Agente Operador do FGTS, centralizadora
de todos os recolhimentos, mantenedora das contas vinculadas em nome dos
trabalhadores, para que num momento futuro, quando da realização de qualquer
das hipóteses legais de saque, seja possível a retirada do numerário e,
consequentemente, providenciada sua meação”.
O caso julgado pelo STJ está em segredo
de justiça.
FONTE:
STJ
Foto Ilustrativa
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